O planejamento da produção agrícola é um dos pilares do sucesso da safra. O rendimento da cultura está intrínseco a otimização de processos, insumos e ao tempo gasto na produção. Dessa forma, a previsão possibilita tomar decisões que melhoram todo o sistema produtivo.
Na produção em hortifruticultura, nem todos os cultivos possibilitam uma única colheita, algumas culturas possuem extensos períodos produtivos. O planejamento desse tipo de produção pode ser uma tarefa difícil de ser executado, pois leva em consideração as especificidades dos ciclos fenológicos inerentes a cada espécie atendendo a um calendário de cultivo. Assim, o escalonamento da produção se torna necessário, pois há a produção contínua de produtos ao longo do tempo de forma planejada e alinhada ao comércio.
O que é o escalonamento da produção agrícola?
O escalonamento é definido como o uso eficiente dos recursos de produção, para assegurar a rápida execução dos trabalhos, suprindo a demanda do consumidor, no prazo determinado da comercialização.
No sistema de produção escalonado é necessário garantir a colheita diária, semanal ou quinzenal. E, para isso é necessário planejar um ciclo de produção onde, ao mesmo tempo, as mudas, se necessárias, estejam sendo formadas, plantas sendo cultivadas e a produção sendo colhida. O escalonamento da produção permite que a medida que o cultivo vai sendo colhido, imediatamente canteiros vão sendo preparados para receber novas mudas e começar um novo cultivo. É muito importante determinar a demanda de cada espécie para não haver falta ou produção em excesso.
A hortifruticultura possui uma dinâmica própria, sofre maior pressão de preços no mercado, além de estar mais sujeitas a adversidades. Assim as atividades da produção exigem que o escalonamento seja realizado desde o início da produção, antes da implantação da cultura até a comercialização, utilizando estratégias na condução do que minimizem perdas e melhorem a produtividade com diminuição de custos.
Para isso aspectos agronômicos importantes devem ser levados em consideração para a organização do escalonamento, como:
- Fatores de produção – Inerentes ao processo produtivo da cultura.
- Cultura – Conhecimento geral do cultivo que será adotado, levando em consideração a densidade populacional, porte, condução, tratos culturais, manejo integrado de pragas, produtividade, colheita e comercialização;
- Rotação de cultura – Diversificando o uso do solo, realizando o manejo ecológico de pragas e doenças, alternando espécies com diferentes necessidades. Ex: adoção de diferentes espécies com profundidades de raízes variáveis, que vão explorar diferentes profundidades e nutrientes no solo;
- Área de produção – Calculando o tamanho necessário para o cultivo. Considerando o escoamento da produção, assim como a mão de obra disponível.
- Pousio – Considerando a ausência de culturas na área para a preservação do solo, diminuição de ervas daninhas e a adubação verde (leguminosas), que favorece a ciclagem de nutrientes.
- Planejamento de produção – Ligação entre o suprimento e demanda que garantirão que os processos produtivos ocorram de forma eficaz.
- Condições climáticas – Com a adoção de espécies e variedades adaptadas para a região de cultivo;
- Mercado consumidor – É importante checar a demanda do produto a ser produzido;
- Demanda – Estudar o mercado antes e saber se o mercado já não está saturado com determinado produto;
- Uso intensivo de tecnologia – Planejamento para adoção da tecnologia disponível, como por exemplo, variedades resistentes a pragas e doenças, sementes tratadas, plantadeiras…
- O que produzir?
- Avaliação de preços do mercado – A melhor opção é produzir com um mercado foco e não ficar a mercê e atravessadores.
- Viabilidade econômica – Analisar a projeção dos gastos e receita que o cultivo trará. O investimento é rentável?
- Tecnologia disponível – Observar se a produção será possível com a tecnologia disponível na propriedade.
- Quanto produzir?
- Tempo de comercialização – Ligado ao escoamento da produção. A quantidade que deverá ser produzida deverá ser calculada, considerando as perdas, para que não haja falta e nem excessos.
- Quando produzir?
- Escalonamento de produção de acordo com a demanda. Determinação da quantidade, qualidade, frequência e tecnologia adotadas. Ex: Tomate – a colheita acontecerá no ponto verde para a mesa ou maduro para a indústria?
- Tipo de exploração
- Diversificada- Mais de uma espécie comercial na área ou consorciação de espécies com ciclo de cultivo diferente.
- Especializada – Somente uma cultura comercial na área. Deve ser rotacionada com uma cultura que contribua para a quebra dos ciclos de pragas e doenças.
- Classificação de hortaliças
- A escolha das espécies e variedades a serem produzidas deve estar de acordo com o foco no mercado consumidor, determinando principalmente a qualidade. O transporte influi diretamente nesse quesito, pois contribuirá para a qualidade. Ex: Uso de caminhão refrigerado ou comum? Nicho de mercado ou generalista?
De acordo com a Embrapa algumas das vantagens do cultivo escalonado, são:
- Diminui os riscos por adversidades climáticas, pois o período crítico das cultivares vai ocorrer em épocas diferentes;
- Melhor distribuição das práticas de implantação e condução da lavoura, desde o preparo do solo até a colheita;
- Maior proteção do solo contra erosão, por meio da cobertura do solo com plantas em diferentes estádios de crescimento;
- Possibilidade de beneficiamento do produto num maior intervalo de tempo, já que a colheita será escalonada;
- Oportunidade de colocação do produto no mercado em épocas mais adequadas e por um maior período de tempo, aproveitando-se os períodos de maior elevação de preços pagos pelo produto.
O planejamento do escalonamento da produção no HF resulta em maiores ganhos ao agricultor. Porém, há alguns entraves dentro do sistema, dentre eles o alinhamento de atividades ou até mesmo a simples comunicação pode dificultar a realização de algumas tarefas. Por isso automatizar alguns sistemas seja a solução para agregar assertividade da produção.
A utilização de softwares de gestão podem coletar dados de maneira muito fácil e ágil, contribuindo para a tomada de decisão e direcionamento das atividades e colaboradores no sistema escalonado e produção.
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Por:Jennifer Stefani Meira da Silva – Engenheira agrônoma, mestranda em fitopatologia pela Universidade Federal de Lavras
Referências
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