O manejo integrado de pragas é um item essencial na rastreabilidade, pois é um sistema baseado na sustentabilidade, regulação de mecanismos para substituição de insumos poluentes, utilizando instrumentos adequados de monitoramento, tornando o manejo economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo.
As exportações do Brasil no setor do agronegócio cresceram 17,5% no primeiro quadrimestre de 2020 mesmo com a pandemia, segundo o ministério da economia, somente a soja teve faturamento de US$ 11.653,7 milhões (AGROLINK, 2020). Esses dados evidenciam que o país tem potencial para aumentar sua produção e exportação de alimentos, portanto é fundamental adotar sistemas de gestão que assegurem a qualidade da cadeia produtiva para manter e atrair novos mercados consumidores.
Países como os Estados Unidos, adotam sistemas de identificação e rastreabilidade que se inicia nos produtores e vão até a unidade de armazenamento, com padrões de qualidade exigidos pela indústria. Na Europa, o projeto TRACE (Tracing the Origin of Food), visa garantir a qualidade e a segurança dos alimentos, além de minimizar riscos de fraudes. Baseada na legislação dos EUA e da Europa, a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) criou em 2017 um guia de rastreabilidade para implementação do sistema de segurança dos alimentos (informações em seu site).
O Brasil identificando a necessidade de um sistema de rastreabilidade que possibilita demostrar à procedência e a qualidade dos produtos, lançou em fevereiro de 2018 a Instrução Normativa Conjunta n° 2 publicada pelo Ministério da Agricultura e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com o objetivo de monitorar e controlar os resíduos de agrotóxicos em frutas e hortaliças.
Assim, as normas de rastreabilidade permitem que o consumidor, cada vez mais preocupado com a informação, tenha o conhecimento da origem dos produtos consumidos.
Justificativa para o uso do MIP na rastreabilidade
A preocupação dos consumidores com a qualidade e origem dos alimentos é baseada na premissa de problemas causados durante o processo produtivo.
No passado, o conceito errôneo de que toda praga e doença deveriam ser exterminadas das culturas, levou ao uso indevido de defensivos químicos. O uso indiscriminado de agrotóxicos causou efeitos nocivos ao homem e ao meio ambiente, como: diminuição de inimigos naturais, seleção de indivíduos resistentes, ressurgimento de espécies controladas, pragas de importância secundária, problemas de ordem econômica, efeitos deletérios em animais, acúmulo de resíduos tóxicos no solo, na água e alimentos, levando a intoxicações em humanos, pelo uso de defensivos não respeitar as culturas alvo e o tempo de carência para a colheita.
A implementação do sistema de rastreabilidade contribui para a identificação do produtor, aumentando assim a segurança alimentar, pois contempla procedimentos para a aplicação da rastreabilidade em todo processo produtivo, principalmente monitorando os resíduos de agrotóxicos em vegetais frescos destinados a alimentação humana.
Dessa forma, o Manejo integrado de pragas é uma medida essencial na rastreabilidade, pois acompanha a cultura, monitora pragas e doenças e seus níveis de incidência, decidindo pelo o uso correto e eficiente de métodos de controle, dentre eles o químico.
Manejo integrado de pragas e doenças
A necessidade do uso racional de defensivos lançou nas décadas de 1960 e 1970 o conceito de manejo integrado de pragas, que adota critérios científicos, com conscientização, educação e preocupação ambiental. O resultado da adoção dessa pratica é a redução do número de aplicações de defensivos químicos, o que reflete em economia ao produtor e minimização de efeitos adversos ao meio ambiente.
De acordo com Nas (1969) o MIP (Manejo Integrado de Pragas) implica na “utilização de todas as técnicas disponíveis dentro de um programa unificado, de tal modo a manter a população de organismos nocivos abaixo do limiar de dano econômico e a minimizar os feitos colaterais e deletérios ao meio ambiente”. O limiar de dano econômico (LDE) é item fundamental do manejo integrado e é definido como a menor densidade populacional de um organismo que causa danos econômicos.
Para que o MIP seja adotado com eficiência, três aspectos principais são considerados:
• Avaliação do ecossistema
faz conhecer as principais pragas e os períodos críticos da cultura, de forma a modificar o ciclo vital do organismo e mantê-lo abaixo do LDE;
• Tomada de decisão
engloba a combinação do conhecimento biológico e da tecnologia disponível para interferir no organismo alvo;
• Escolha da estratégia
métodos de controle compatível com aspectos econômicos, ecológicos e sociais.
Um ponto pertinente ao manejo integrado de pragas é que ele foi criado por entomologistas, com sua aplicação para insetos e quando se trata de doenças, conceitos como o LDE não é totalmente aplicável. Para tornar essas práticas mais eficientes, os fitopatologistas têm incorporado modelos de previsões em programas de MIP, onde a decisão da aplicação ou não do defensivo é tomada dentro de valores abaixo do limiar de dano biológico, que é a severidade mínima da doença que causa injúria. Assim, alguns estudiosos defendem que o MIP na verdade, deveria ser denominado MIPD – Manejo integrado de pragas e doenças.
Independente do nome do sistema a ser adotado, os objetivos do manejo integrado são a prevenção e o tratamento de organismos/microrganismo, levando em consideração a eficiência dos métodos e seus custos.
O manejo integrado de pragas é um item essencial na rastreabilidade, pois é um sistema baseado na sustentabilidade, regulação de mecanismos para substituição de insumos poluentes, utilizando instrumentos adequados de monitoramento, tornando o manejo economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo.
Um dos principais obstáculos encontrados pelo produtor para a adoção do MIP são o monitoramento e a determinação do momento da ação. Nesses quesitos a tecnologia ganha espaço, auxiliando o produtor com o armazenamento de informações pertinentes e cálculos para o momento de ação, integrando igualmente fator fundamental na rastreabilidade dos alimentos, pois facilita a coleta de informações de interesse do consumidor, como os resíduos de defensivos.
Rastreabilidade Digital
A rastreabilidade digital contribui para a segurança alimentar, pois facilita a inclusão de informações, como origem, processos de produção incluindo o manejo de pragas. O acesso a essa tecnologia também por dispositivos móveis, permite a utilização de um QRCode, que identifica rapidamente o processo de produção do alimento, garantido assim a qualidade dos produtos.
As principais vantagens para adoção do sistema de rastreabilidade digital considerando o manejo integrado de pragas e doenças são:
• Economia de custos;
• Menor impacto ambiental;
• Produção de alimentos seguros e com qualidade;
• Agilidade e exatidão no acesso às informações;
• Confiança de consumidores;
• Atendimento de programas de controle de qualidade;
• Certificação.
Por: Jennifer Stefani Meira da Silva – Engenheira agrônoma, mestranda em fitopatologia pela Universidade Federal de Lavras
Referências
AGROLINK. Exportações crescem 17,5%: Balanço do primeiro quadrimestre ressalta bom desempenho. 2020. Acesso em: 22 maio 2020.
CARVALHO, Nathália Leal; BARCELLOS, Afonso Lopes. Adoção do manejo integrado de pragas baseado na percepção e educação ambiental. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, v. 5, n. 5, p. 749-766, 2012.
NAS (National Academy of Sciense). Insect Pest Management and Crontol. Publ. Washington, National Academy of Sciense, 1969.